opinião

Carnaval presidencial


O Brasil, como ocorre em todos os anos, por quatro dias altera seu sistema de governo, o presidencialismo tira férias e a monarquia, que sempre é muito alegre e festiva, se instala temporariamente sob a regência do Rei Momo. A calmaria que toma conta do país nestes curtos espaços de recesso do presidencialismo, segundo alguns monarquistas, é a prova cabal de que, se fôssemos uma monarquia constitucional, as coisas seriam melhores. Alguns Estados da federação ousam prolongar a vigência do governo do Rei Momo para além dos quatro dias regulamentares.

Estando o presidencialismo de recesso, natural que o titular da presidência também se afaste do centro do poder. Rei Momo, que é folião, mas não é bobo, não desejou correr o risco de ficar com o presidente por perto. Teve razão o monarca, pois estudando a história recente, se deu por conta que, estando por perto, o presidente poderia querer tirá-lo do poder antes do tempo, abreviando as festas momescas.

Diante de um reinado curto e limitado a quatro dias, não quis, o monarca, correr qualquer risco de ser golpeado com qualquer redução. Desejava reinar até o meio-dia da Quarta-Feira de Cinzas. Por isso, às custas do erário público, ofereceu ao presidente viagem à uma base naval. Ora, nas monarquias há sempre uma corte. Momo não iria ceder sua corte para fazer companhia ao presidente. Aliás, não ficaria bem. A corte momesca é muito alegre e contrasta com a figura soturna do presidente. Assim, permitiu que o mandatário em recesso montasse sua própria corte para preencher seus dias na isolada base naval.

Pois bem.

A oferta foi aceita, para alívio do Rei Momo, que ficou livre de qualquer conspiração no seu entorno. Uma corte presidencial foi formada, reunindo 65 pessoas e lá se foram todos, às custas do dinheiro da viúva, como se dizia antigamente, quando se faziam extravagâncias com dinheiro público.

Passados os dias em que a monarquia governou o Brasil, ficou confirmado que o país foi feliz nesses poucos dias. O Rei não falou em aumento de impostos, a gasolina, depois de várias e sucessivas altas, baixou um pouquinho, houve silêncio sobre a reforma da previdência, enfim, foi um soluço de normalidade.

Outro detalhe importante: no período de recesso presidencial todo o poder ficou enfeixado nas mãos do monarca. O Legislativo caiu na folia e o Judiciário ficou de sobreaviso para questões de maior gravidade ou urgência. Tudo foi como um lindo sonho de verão.

Agora, Rei Momo, que, como já vimos não é bobo, entra de recesso pelos restantes 361 dias e deixa o abacaxi para ser descascado por quem o cultivou. Estamos de volta aos sobressaltos da vida.

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